Humanismo
O Humanismo foi um movimento
artístico e intelectual que surgiu na Itália no final do da Idade Média (século
XIV) e alcançou a plena maturidade no Renascimento.
No final da Idade Média a Europa
estava em mudança, ocorreu o surgimento da burguesia, as pessoas vinham do
campo para as cidades (burgos). Essas pessoas eram leigas e necessitavam de mais
cultura, já que começavam a acumular riquezas.
Com essa nova visão, a cultura começou a sair do poder apenas da Igreja
e dos Palácios para alcançar a população. Textos de autores da Antiguidade
Clássica foram redescobertos e considerados uma fonte de saber a respeito dos
ser humano.
Com isso, se resgatava uma visão mais antropocêntrica que era
característica da cultura Greco-latina. Iniciou-se uma fuga do teocentrismo e
ocorreu uma visão mais humanista do ser humano.
v O
projeto literário do Humanismo
Como era uma fase de transição da época medieval para a moderna, o
projeto literário não tem características completamente definidas, sendo que o
velho e o novo convivem, ocasionando uma tensão que se evidencia na produção
cultural e artística.
Essa nova produção abandona a subordinação da Igreja e resgata os
valores clássicos.
A obra de Dante Alighieri e de Francesco Petrarca constitui a base para
o desenvolvimento da literatura no período do humanismo e serviu de inspiração
para artistas de outros países europeus.
Humanismo
em Portugal
O Humanismo chegou em Portugal no início do reinado da Dinastia de Avis
(1385) a produção poética entra em crise e não há relato da circulação de
textos poéticos no país. Nesse período (1350 – 1450) o país vive o apogeu da
literatura histórica e político doutrinária.
v
Fernão Lopes: foi nomeado cronista-mor do reino
em 1434, sendo considerado o marco inicial do Humanismo em Portugal. Ele
escreveu três crônicas:
·
Crônica de
El-Rei D. Pedro I: nesse texto esta o relato da morte de Inês de Castro,
amante do rei, assassinada a mando de D. Afonso IV, pai de D. Pedro I. Nesse
volume estão compilações e críticas ao reinado de D. Pedro I.
·
Crônica de
El-Rei D. Fernando: reconstituição do período do casamento de D. Fernando
com Dona Leonor Teles e encerra-se com a Revolução de Avis.
·
Crônica de
El-Rei D. João: é dividida em duas partes, a primeira relata a morte de D.
Fernando e a subida de D. João ao trono e a segunda relata o reinado de D.
João.
Fernão distinguia-se dos demais
cronistas pela importância que dava ao povo, tratando ele como coadjuvante da
história dos reis.
v Gil
de Vicente: na Idade Média, todos os teatros eram de cunho religioso e eram
apresentados no pátio das igrejas e dos monastérios. No momento que o Paço Real
adquire maior importância, torna-se centro da movimentação cultural e é de lá
que as peças são encenadas, sendo que a atividade teatral se intensifica e
começa a abranger outros assuntos e não apenas os religiosos.
Em Portugal o grande autor teatral dessa época é Gil de Vicente, que em
71 anos de vida produz 44 peças.
As peças de Gil de Vicente têm caráter moralista, condenando os
comportamentos condenáveis e enaltecendo as virtudes. A religião Católica é
tomada como parâmetro do que é certo e errado, mas sem deixar de criticar o
comportamento mundano dos membros da Igreja. Mesmo tomando a religião católica
como base para comparações, ele nunca deixou de voltar as suas atenções para o
indivíduo, jamais para a Igreja Católica.
As suas obras podem ser divididas em:
·
Autos
pastoris: são as obras do início da carreira, algumas têm caráter
religioso, como o Auto pastoril português,
e outras têm caráter profano, como Auto
pastoril da serra da Estrela.
·
Autos de
moralidade: é o gênero que ele se celebrizou, como é o caso da trilogia das
barcas (Auto da barca do inferno, Auto da
barca do purgatório e Auto da barca
da glória) e do Auto da Alma.
·
Farsas:
peças de caráter critico e cômico, utilizando tipos populares e
desenvolvendo-se em torno de problemas sociais. As mais populares são Farsa de Inês Pereira, história de uma
jovem que vê no casamento uma forma de ascensão social e O velho da horta, que ridiculariza a paixão de um velho casado por
uma jovem virgem.
§
Resumo de algumas obras de Gil de Vicente
·
Auto da
Barca do inferno: tudo gira em torno de dois personagens fixos “anjo e
diabo”. A peça se passa em um lugar imaginário onde se encontram duas barcas, a
Barca da Glória e a Barca do Inferno.
Os
seguintes personagens encontram-se para o julgamento em qual barca cada um deve
entrar:
Um
Fidalfo;
Um
Onzeneiro (agiota);
Um
Sapateiro (parece ser abastado);
Joane,
um Parvo que era um homem simples e tolo;
Um
Frade;
Uma
alcoviteira;
Um
Judeu;
Um
Corregedor e um Procurador, alto funcionário da Justiça;
Um
Enforcado;
Quatro
Cavaleiros que morreram em combate pela fé;
Apenas
os Quatro Cavaleiros e o Parvo podem entrar na Barca da Glória.
O
Diabo está alegre pela presença de muitas pessoas na sua barca.
Resumo
da obra:
A Obra
O primeiro a embarcar é
um Fidalgo, que chega acompanhado de um Pajem, que leva a calda da roupa do
Fidalgo e também uma cadeira, para seu encosto.
O Diabo mal viu o
Fidalgo e já lhe falou para entrar em sua barca, pois ele iria levar mais almas
e mostrar que era bom navegante. Antes disso, o companheiro do Diabo, começou a
preparar a barca para que as almas dos que viessem, pudessem entrar.
Quando tudo estava
pronto, o Fidalgo dirigiu a palavra ao Diabo, perguntando para onde aquela
barca iria. O Diabo respondeu que iria para o Inferno, então o Fidalgo resolveu
ser sarcástico e falou que as roupas do Diabo pareciam de uma mulher e que sua
barca era horrível. O Diabo não gostou da provocação e disse que aquela barca
com certeza era ideal para ele, devido a sua impertinência. O Fidalgo
espantado, diz ao Diabo que tem quem reze por ele, mas acaba recebendo a
notícia de que seu pai também havia embarcado rumo ao Inferno.
O Fidalgo tenta achar
outra barca, que não siga ao Inferno, então resolve dirigir-se a barca do céu.
Ele resolve perguntar ao Anjo, aonde sua barca iria e se ele poderia embarcar
nela, mas é impedido de entrar, devido a sua tirania, pois o Anjo disse que
aquela barca era muito pequena para ele, não teria espaço para o seu mau
caráter.
O Diabo começa a fazer
propaganda de sua barca, dizendo que ela era a ideal, a melhor. Assim, O
Fidalgo desconsolado, resolve embarcar na barca para o Inferno. Mas antes, o
Fidalgo queria tornar a ver sua amada, pois ele disse que ela se mataria por
ele, mas o Diabo falou que a mulher na qual ele tanto ama, estava apenas
enganando- o, que tudo que ela lhe escrevia era mentira. E assim, o Diabo
insistia cada vez mais para que o Fidalgo esquecesse sua mulher e que embarcasse
logo, pois ainda viria mais gente.
O Diabo manda o Pajem,
que estava junto com o Fidalgo, ir embora, pois ainda não era sua hora. Logo a
seguir, veio um agiota que questionou ao Diabo, para onde ele iria conduzir
aquela barca. O Diabo querendo conduzi-lo a sua barca, perguntou por que ele
tinha demorado tanto, e o Agiota afirmou que havia sido devido ao dinheiro que
ele queria ganhar, mas que foi por causa dele que ele havia morrido e que não
sobrou nem um pouco para pagar ao barqueiro.
O Agiota não quis entrar
na barca do Diabo, então resolveu dirigir-se à barca do céu. Chegando até a
barca divina, ele pergunta ao Anjo se ele poderia embarcar, mas o Anjo afirmou
que por ele, o Agiota não entraria em sua barca, por ter roubado muito e por
ser ganancioso. Então, negada a sua entrada na barca divina, o Agiota acaba
entrando na barca do Inferno.
Mais uma alma se aproximou, desta vez era um Parvo, um homem tolo que
perguntou se aquela barca era a barca dos tolos. O Diabo afirmou que era a
barca dos tolos e que ele deveria entrar, mas o Parvo ficou reclamando que
morreu na hora errada e o Diabo perguntou do que ele havia morrido, e o Parvo
sendo muito sutil respondeu que havia sido de caganeira.
O Parvo ao saber aonde aquela barca iria, começou a insultar o Diabo e
foi tentar embarcar na barca divina. O Anjo falou que se ele quisesse, poderia
entrar, pois ele não havia feito nada de mal em sua vida, mas disse para
esperar para ver se tinha mais alguém que merecia entrar na barca divina.
Vem um sapateiro com seu avental, carregando algumas fôrmas e chegando
ao batel do inferno, chama o Diabo. Ele fica espantado com a maneira na qual o
sapateiro vem carregado, cheio de pecados e de suas fôrmas.
O sapateiro tenta enrolar o Diabo, dizendo que ali ele não entraria pois,
ele sempre se confessava, mas o Diabo joga toda a verdade na sua cara e o manda
entrar logo em sua barca. O sapateiro tenta lhe dizer todas as feitorias que
havia feito, na tentativa de conseguir entrar no batel do céu, mas o Anjo lhe
diz que a "carga" que ele trazia não entraria em sua barca e que o
batel do Inferno era perfeito para ele. Vendo que não conseguiu o que queria, o
sapateiro se dirige à barca do Inferno e ordena que ela saia logo.
Chegou um Frade, junto de uma moça, carregando em uma mão um pequeno
escudo e uma espada, na outra mão, um capacete debaixo do capuz. Começou a
cantarolar uma música e a dançar.
Ele falou ao Diabo que era da corte, mas o próprio perguntou-lhe como
ele sabia dançar o Tordião, já que era da corte. O Diabo perguntou se a moça
que ele trazia era dele e se no convento não censuravam tal tipo de coisa. O
Frade por sua vez diz que todo no convento são tão pecadores como ele e
aproveitou para perguntar para onde aquela barca iria.
Ao saber para onde iria, ficou inconformado e tenta entender porque ele
teria que ir ao Inferno e não ao céu, já que era um frade. O Diabo lhe responde
que foi devido ao seu comportamento durante a vida, por ter tido várias
mulheres e por ter sido muito aventureiro. Assim, o Frade desafia o Diabo, mas
este não faz nada e apenas observa o que o Frade faz.
·
Auto da
Barca do Purgatório: As personagem apresentam uma uniformidade na condição
social, todas são humildes. O destino delas são:
Na
praia purgatória ficam:
Um
lavrador de arado nas costas, explorado por todos cujo a fadiga e sacrifícios e
salva da sua condenação;
Marta
Gil, uma regateira, que praticou pequenas faltas;
Um
pastor que, embora crente, cedeu às tentações;
Uma
pastora menina, que também terá que expiar pequenas faltas.
Para
o céu vai um menino de pouca idade que nem chegou a pecar.
Para
o inferno vai um “taful” (jogador, trapaceiro e mentiroso), que no final da
peça joga carta com o diabo.
·
Auto da
Barca da Glória: nessa peça, personagens importantes são julgados,
diferente da anterior que os personagens são humildes. Duque, Rei, Imperador, Bispo,
Arcebispo, Cardeal e o Papa são conduzidos para a barca do inferno pelos seus
pecados.
Abaixo estão alguns exercícios para
testar os seus conhecimentos:
1.
(26 – 2009) Considere as afirmações abaixo sobre
o Auto da Barca do Inferno, de Gil de
Vicente.
I
– Apenas o Fidalgo e o Sapateiro levam consigo objetos característicos de seu status social em vida.
II
– Apenas o Parvo e os quatro Cavaleiros cruzados serão conduzidos pela Barca da
Glória.
III
– Ao contrário do Anjo vicentino, que é persuasivo e alegre, o Diabo vicentino
é um personagem sisudo, de poucas e irônicas falas.
Quais
estão corretas?
a)
Apenas I.
b)
Apenas III.
c)
Apenas I e II.
d)
Apenas II e III.
e)
Todas as alternativas.
2. (31
– 2006) A cena do embarque do frade Babriel é uma das mais importantes do Auto
da Barca do Inferno, de Gil de Vicente.
Numere as seguintes ações de Babriel de acordo com a ordem em que elas
ocorrem na referida cena.
(
) O frade utiliza-se do hábito na tentativa de alcançar a salvação.
(
) O frade, ao se encontrar com o Diabo, está acompanhado de Florença.
(
) O frade dirige-se à Barca da Glória.
(
) O frade é recebido pelo parvo Joane.
(
) O frade, acompanhado da mulher, acolhe a sentença.
A seqüência correta de preenchimento
dos parênteses, de cima para baixo, é
a)
2 – 1 – 4 – 3 – 5.
b)
3 – 4 – 2 – 5 – 1.
c)
2 – 1 – 3 – 4 – 5.
d)
5 – 3 – 2 – 1 – 4.
e)
5 – 2 – 3 – 4 – 1.
3. (31
– 2004) Considere as seguintes afirmações, relacionadas ao episódio do embarque
do fidalgo, da obra Auto da Barca do
inferno, de Gil de Vicente.
I – A acusação de tirania e presunção
dirigida ao fidalgo configura uma critica não ao indivísuo, mas à classe a que
pertence.
II – Gil Vicente critica as
desigualdades sociais ao apontar o desprezo do fidalgo aos pequenos, aos
desfavorecidos.
III – No momento em que o fidalgo
pensa ser alvo por haver deixado, em terra, alguém orando por ele, evidencia-se
a crítica vicentina à fé religiosa.
Quais estão corretas?
a)
Apenas I.
b)
Apenas I e II.
c)
Apenas I e III.
d)
Apenas II e III.
e)
I, II e III.
4.
(31 – 2002) Assinale a alternativa alternativa
incorreta sobre a obra de Gil Vicente.
a)
Gil Vicente tem suas raízes na Idade Média, mas
volta-se para o Renascimento, aliando o humanismo religioso à atitude critica
diante dos problemas sociais.
b)
Variada na forma, a obra vicentina desvenda os
costumes do século XVI, satirizando a sociedade feudal sem perder o caráter
moralista e resguardando o sentido de intervenção social.
c)
Embora critique o clero, a nobreza e seu séquito
ocioso, o teatro vicentino faz a exaltação heróica dos reis, atitude comum na
Idade Média.
d)
Ao mesmo tempo que desenvolve a sátira social, a
produção vicentina aponta para a necessidade de reforma da Igreja, devido aos
abusos do clero.
e)
Trabalhando com uma verdadeira galeria de tipos,
Gil Vicente adapta o uso da linguagem coloquial ao estilo e à condição social de cada um deles.
5.
(01 – 2000) Em relação ao Auto da Barca do
Inferno de Gil Vicente, considere as seguintes afirmações.
I.
Trata-se de um grande painel que satiriza a
sociedade portuguesa do seu tempo.
II. Representa a
transição da Idade Média para o Renascimento, guardando traços dos dois
períodos.
III. Sugere que o diabo, ao julgar justos e
pecadores, tem poderes maiores que Deus.
Quais
estão corretas?
a)
Apenas I.
b)
Apenas I e II.
c)
Apenas I e III.
d)
Apenas II e III.
e)
I, II e III.
Gabarito
1 – C
2 – C
3 – B
4 – C
5 – E
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