Os Filósofos Pré-Socráticos
A Filosofia nasce na Grécia por volta do século VI a.C. Os filósofos estavam
em busca do princípio, da origem ou, melhor dizendo,
do ser de todas as coisas.
Para expressar o ser, alguns destes filósofos utilizaram o termo
physis que frequentemente é traduzida por física, matéria ou natureza e
estavam em busca do princípio de todas
as coisas, ou a arqué. Assim, desde
Aristóteles se supõe que eles estavam em busca de um princípio físico ou
material de tudo, o que não é correto, pois,
estavam, na verdade,
em busca do ser das coisas. Em virtude
deste equívoco, este período é também
denominado naturalista ou cosmológico. Outra dificuldade, ainda, é que
nenhuma obra destes filósofos nos
chegou inteiras, mas somente fragmentos, geralmente
encontrados em obras como as de Aristóteles e Diógenes Laércio que os citaram.
As principais escolas do período pré-socrático são: a
escola Jônica, os Pitagóricos, os Eleatas e os físicos
ecléticos. Todos refletiram sobre o princípio originário de todas as coisas.
A Escola Jônica:
a)
Tales de Mileto,
para quem o princípio é a água;
b)
Anaximandro,
seu discípulo apontou como princípio o
apeíron: o indeterminado ou infinito;
c)
Anaxímenes,
discípulo de Anaximandro, afirmou que o princípio era o ar.
d)
Heráclito de Éfeso, propõe a tese de que “tudo se move”, “tudo flui” (pantha rhei). Por isso, explica
que todas as coisas são a harmonia
dos contrários decorrente de uma guerra constante entre eles. Dentre suas fases famosas destacamos: “Nós descemos e
não descemos pelo mesmo rio; somos e não somos”.
A escola pitagórica:
O principal representante
foi Pitágoras de Samos. Caracteriza-se pela tese de que o universo
é inteiramente harmônico e os
números são o princípio de todas as coisas. Pitágoras observou que o som produzido
pelo choque de um martelo batendo em uma bigorna depende
do volume do instrumento, assim como o som de uma corda da lira, depende do cumprimento e da largura da corda. O
que ele descobriu foi mais tarde
importante para a filosofia da ciência – é que a regularidade encontrada nos fenômenos naturais, como as estações
do ano, pode ser traduzida em
abstrações matemáticas.
A escola eleática:
Caracteriza-se por sua busca do ser. Xenófanes e Parmênides são seus
principais representantes. Parmênides
propõe a filosofia do imobilismo e ela
se opõe diretamente ao pensamento de Heráclito, pois para este, tudo flui, enquanto para aquele, o ser não flui. Ele
é sempre ele mesmo.
A primeira crise da filosofia foi provocada pelas
posições antagônicas destes dois filósofos
e a partir daí começam
as tentativas de solução.
A escola eclética:
Empédocles
(século V A.C.) propõe que o ser é o resultado da constante fusão de quatro
elementos: o quente
(fogo), o seco (terra), o úmido (água) e o frio (ar). As coisas
surgem pela fusão ou separação destes elementos. Fundem-se pelo amor (philia)
e separam-se pelo ódio ou pela
discórdia (neîkos).
Sofistas
A Filosofia do período conhecido como sofística possui algumas características bastante
particulares e até então, o termo “sofista”
possuía um significado
negativo: argumentos que têm por objetivo levar o adversário à contradição e ganhar uma disputa, seja
com que objetivo for. Esta ideia levou
Platão e Aristóteles a considerarem os sofistas relativistas em termos de moral.
A
sofística, no entanto, exerceu ao
menos, duas importantes modificações na filosofia que lhe era anterior. A primeira foi o pan-helenismo. Os sofistas dedicaram-se a ensinar qualquer
um que tivesse condições de aprender, viajavam por várias cidades e, assim, contribuíram para a formação da
cultura helênica de modo decisivo, especialmente
na consolidação da língua grega. No entanto, ensinavam profissionalmente e cobravam para isto. Por esta
característica foram severamente criticados por
Sócrates e Platão que consideravam moralmente inadequado um filósofo cobrar por seu
ensinamento.
A
segunda modificação exercida pelos
sofistas na cultura grega foi o deslocamento da pesquisa filosófica que
antes se concentrava na physis e no
cosmo, para o homem. O ser humano e sua linguagem
passam a ser o principal objeto de reflexão dos sofistas,
por isso, esta fase é conhecida como período humanista da filosofia em
oposição ao período anterior
denominado cosmológico.
Protágoras (491 – 444 a.C., aproximadamente) teorizou
o que ficou conhecido como homo
mesura, ou seja, “o homem é a medida de
todas as coisas. Assim, desloca
o centro do conhecimento e da verdade, que antes se
encontrava nas coisas, para o homem. Seu método era o da antiologia, segundo
o qual para todo argumento era sempre possível
encontrar uma proposição contrária. Por
isso, diante da falta de certeza da
verdade, toma como critério o que é útil e o que é conveniente. Por suas ideias,
é considerado um dos pais do
relativismo moral e do utilitarismo das filosofias moderna e contemporânea.
Górgias (485 – por volta de 385 a.C.). Para responder
à filosofia pré-socrática e sua pretensão de conhecer o ser, estivesse ele
em movimento (Heráclito) ou fosse
estático (Parmênides) “Como pode alguém expressar com palavras
aquilo que vê?” Ora, pela palavra comunicamos somente palavras e não as coisas mesmas, assim, o conhecimento humano
se concentra no mundo das palavras e não das coisas.
Sócrates
O período filosófico que
compreende a sequência de mestres e discípulos:
Sócrates, Platão e Aristóteles, é conhecido como Filosofia Clássica, o qual
surgiu no período de decadência da Grécia. O século V a.C. é conhecido como o “século
de Péricles” no qual a Grécia exerceu domínio
sobre outros povos e Atenas sobre os gregos. Quando Sócrates começa sua obra, Atenas está em decadência e perde a hegemonia para Esparta na Guerra do
Peloponeso (431 a.C.). Assim, encontramos no pensamento desse filósofo
uma critica à decadência moral e um incitamento a uma ética rigorosa que recupere os valores dos helenos.
Sócrates (470 – 399 a. C.)
nada escreveu, pois considerava que a filosofia deveria ser resultado do diálogo, a busca de uma verdade e não o oferecimento de uma verdade acabada,
como os sofistas. Não construiu
uma escola, ensinava
na ágora, a praça pública grega, nas casas dos amigos e onde pudesse encontrar
um grupo disposto a conversar. Seu método era a maiêutica. Esta palavra
em grego significa parir,
então, sua tarefa era a de parir ideias. Investigava o conhecimento dos adversários por meio de perguntas. Por exemplo, se alguém lhe dissesse que algo era justo ou injusto, de pronto
respondia algo como: “que bom! Encontrei
alguém que sabe o que é justiça,
posto que eu mesmo não sei. Assim,
diga-me, o que é a justiça?”
Como se pode ver, a ironia era uma das características mais marcantes de seus diálogos.
As respostas dos adversários eram sempre
insuficientes, pois o máximo que
conseguiam era explicar a justiça a partir de um caso particular e não a
justiça em si. Sócrates, então, dizia que seu objetivo era conhecer as coisas mesmas e
não suas representações, por isso, investigava a justiça, o bem, a verdade, o belo etc.
Conversando com os outros, os especialistas em
política, linguagem, arte, por
exemplo, quis aprender com eles e descobriu
que eles tampouco sabiam do que
falavam, por isso, concluiu que era o mais sábio, não porque
soubesse mais do que
os outros, mas justamente, por que reconhecia a própria ignorância.
Platão
Este sábio ateniense nasceu em 427 ou 428 e faleceu em
347 ou 346 a.C. Enquanto Sócrates nada escreveu, seu discípulo mais conhecido foi um
dos maiores escritores gregos e da história da filosofia. Sua obra foi produzida
em forma de diálogos criando
um estilo que seria, mais tarde, cultivado
por outros filósofos. Ao contrário
de seu mestre, porém, Platão não ensinava em
lugares públicos, mas fundou uma escola chamada Academia.
Platão
descreve as dualidades entre o sensível e o inteligível, entre o fenômeno e a coisa em si. Esta é a teoria das ideias.
Os fenômenos sensíveis
são como sombras das ideias, por isso, por estas sombras jamais
chegaremos ao conhecimento do que as
ideias são de fato. Somente por meio da filosofia, do diálogo e da dialética chegaremos ao conhecimento verdadeiro
das ideias e, portanto das verdades.
Alegoria da
Caverna
No livro VII da República, Platão descreve por meio da Alegoria da Caverna o que é a ilusão
dos sentidos no conhecimento e o caminho
para o mundo das ideias.
Os homens acorrentados na caverna, de tal modo que não
pudessem virar o rosto, viam somente
as sombras dos objetos verdadeiros. No entanto, discursavam sobre estas sombras, davam-lhes nomes e
adivinhavam-lhes a frequência com que
apareciam. Um dos prisioneiros se liberta e, indo em direção à luz descobre que ela é produzida por um fogo artificial,
cuja luz projeta a sombra dos objetos no fundo
da caverna. Indo mais além, descobre um mundo inteiro fora da caverna e
demora a se acostumar à luz do sol (o
bem supremo). Voltando à caverna tenta libertar os companheiros e contar-lhes que o que veem não são as coisas
em si mesmas, mas sombras. Estes não
aceitam sua verdade e, se pudessem, o matariam. Ora fica claro que está falando
do papel do filósofo que conhece a verdade, dos homens que se iludem com as sombras e de Sócrates
que ao tentar esclarecer seus
companheiros foi rejeitado.
Aristóteles
Aristóteles
(384-322 a.C.) critica a teoria das idéias de Platão, principalmente a divisão
entre um mundo sensível e um mundo inteligível. Ao retomar a problemática do
conhecimento, distingue três tipos de saber:
• A experiência ou conhecimento sensível,
dado pelo contato direto com a própria coisa, é um conhecimento que se forma
por familiaridade com cada coisa, é imediato e concreto e só nos permite chegar
ao conhecimento do individual.
• A técnica ou o saber fazer é o
conhecimento dos meios a serem usados para se chegar aos fins desejados. A
técnica não é mais o conhecimento do particular, pois já encerra uma idéia das
coisas, participando do universal. Uma vez que encerra uma idéia, pode ser
ensinada. A técnica dá o quê e o porquê das coisas.
• A sabedoria (sofia) é o único tipo de
conhecimento a determinar as causas e princípios primeiros; a única a poder
dizer o quê as coisas são, por que são e demonstrá-las.
As noções
universais, pertencentes ao âmbito da sabedoria, são as mais difíceis de se
adquirir porque estão muito longe da sensação.
Quem escolhe o saber por si mesmo escolhe a ciência dos
primeiros princípios e das causas, pois é isso que dá a finalidade a todo o
trabalho. A sabedoria inclui a filosofia
primeira, posteriormente chamada de metafísica, que considera o ser em geral,
livre de toda determinação particular, buscando as causas e os princípios
universais. O conhecimento, para Aristóteles, é uma somatória de todos esses
modos de conhecer, sem haver ruptura ou descontinuidade entre eles. Na
verdade, um não invalida o outro. Ao contrário, enriquece-o e, neste ponto,
contradiz Platão.
A Ética de Platão
Platão propõe uma ética
transcendente, dado que o fundamento de sua proposta ética não é a realidade
empírica do mundo, nem mesmo as condutas humanas ou as relações humanas, mas
sim o mundo inteligível. O filósofo
centra suas indagações na Ideia perfeita, boa e justa que organiza a sociedade
e dirige a conduta humana. As Ideias formam a realidade platônica e são os
modelos segundo os quais os homens tem seus valores, leis, moral. Conforme o
conhecimento das ideias, das essências, o homem obtém os princípios éticos que
governam o mundo social
A virtude é definida, pois, como capacidade de realizar a tarefa que
lhe é inerente. No caso do governante
da cidade , a virtude inerente aos
mesmos é a sabedoria; no caso
dos guerreiros e , a virtude que lhes é própria é a coragem;
por fim, no caso dos produtores de bens
da cidade, a virtude própria é temperança. Dada a posição de cada classe,
pode-se definir a justiça como cada parte fazendo o que lhe compete, conforme
suas aptidões.
A Ética de Aristóteles
A ética
aristotélica, em oposição à ética de seu mestre, é imanente, tendo suas bases
na realidade empírica do mundo, no
questionamento acerca das condutas humanas e na organização social. As
exigências com relação à vida na polis e a realidade do homem formam o conteúdo
das ideias, e são ambas as responsáveis pela escolha dos valores, pela
moralidade e pelas leis, pela definição das condutas dos homens. Sua teoria
ética era realista, empirista em contrapartida à visão idealista e racionalista
de Platão.
A
virtude é definida por Aristóteles como hábito ou disposição racional
constante, sendo a virtude o hábito que torna o homem bom e o capacita na boa
execução de sua função. Esta definição se mostra oposta à de Platão: em que a
virtude é definida como capacidade de realizar uma função determinada, inerente
a alguma parte da alma humana ou da cidade ideal.
Há duas espécies de virtudes em
Aristóteles. A virtude intelectual é adquirida através do ensino, e assim, necessita de
experiência e tempo. A virtude moral é
adquirida, por sua vez, como resultado do hábito. O hábito determina nosso
comportamento como bom ou ruim. É devido ao hábito que encontramos a justa-medida. Exemplo: entre a audácia e a covardia se encontra a precaução com atitude que é a justa medida neste caso.
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